O assalto

Hoje resolvi colocar no blog uma das histórias mais idiotas da minha vida (e olha que não são poucas), pra simplesmente evitar de ter que ficar contando varias e varias vezes minha própria humilhação.
É o curioso caso de quando eu e meus queridos amigos Lucca, Bolivar, Paulinho e Will fomos surpreendidos por um grato amigo, em plena marginal.
Claro que, por ser a minha versão da história, a culpa vai ser mais deles do que minha, mas também não sou o tipo do cara que oculta minhas burrices (vide blog).
Tudo começou num lindo sabado. Estavamos indo para um show cujo endereço me era desconhecido. No final das contas, era desconhecido para todos nós, mas o Bolívar admitiu isso tarde demais. Pegamos o metro e fomos lá pra casa do chapéu, se não me engano, lá na estação tiete, aquela em frente ao belo shopping D. Saindo da estação, Bolívar indicou uma das direções e Paulinho, que agora também se tornara um GPS garantiu a informação. Seguimos tranquilos pela calçada da Marginal Tietê, temendo mal nenhum. Jovens mancebos que éramos achavamos o pacato lugar uma paz só.
Em determinado momento, amaldiçoado seja, Will entra em cena com uma brilhante idéia. Resolve abrir a mala cheia de blusões de marca para servir-se de um pacote de bolachas. Para concluir tal tarefa, teve antes que retirar todos os casacos e deixá-los a mostra para quem quisesse ver e conferir os modelos. Esta missão acabou por atrasá-los (Paulinho, mochila nas costas, Will, o explorador) e a velocidade foi diminuida ao ponto de segurar todo o grupo. Observando tamanha cena, um maldito rapazote em sua bicicleta resolveu aproximar-se e tentar uma abordagem casual. Pediu uma bolacha (biscoito pra quem tem preconceito ou mente lerda). Will, sagaz, antes de abrir, ofereceu-lhe o pacote todo a fim de evitar mais negociações. O cretino, então respondeu amavelmente que só queria uma. Will abriu o pacote, deu-lhe a mísera, e seguiu com sua caminhada. Tudo isso, aliás, foi enquanto caminhávamos, uma verdadeira perseguição Fast and Furious.
Logo que acabou seu quitute, disse que agora queria dez reais. O infeliz era uma droga de um dinossaurinho, desses que você começa alimentando com pedaços de presunto e no final ele vem e devora toda a sua família. Salve Spielberg! O cara, nessa hora, teve a moral de enfiar o dedo por debaixo da blusa e dizer que estava armado. Com certeza um blefe desgraçado. Agora, para cinco rapazolas, que tinham, até então, medo de pedir 6 num jogo de truco, dizer “Seu lixo, você não está armado droga nenhuma!Vaza daqui!” era simplesmente impensável. Provavelmente, o racional a fazer na hora, seria nós cinco roubarmos dele a bicicleta, mas se tivessemos feito isso não teria nenhuma graça. Ou poderiamos estar todos mortos. Sua escolha. 
Nesse momento, então, entra nosso amigo Lucca. Garoto atento, bem preparado psicologicamente para a situation, não percebeu Bolívar entregando ao meliante os dez reais e ofereceu, sem hesitar, MAIS dez reais de sua própria fortuna, ao pobre homem. No mesmo momento, provavelmente extasiado com o altruísmo de nosso colega, disse que agora queria dez de cada um. Que ótimo! Mal podia esperar para contribuir também! Não posso deixar de mencionar que tudo isso ocorreu enquanto o “matadores de velhinha” nos ameaçava de morte com “pipocos na cabeça”. Um clima amigável para essa troca de favores.
Minha burrice então precisava ser notada. Não era possível que meus amigos estivessem todos agindo como idiotas e eu ia passar batido. Não. Eu tinha que me manifestar. Somos amigos. Unidos. Erramos juntos, pagamos juntos. Levantei a voz e logo afirmei “Só tenho 20!”. O bandido aceitou sem reclamações, o que facilitou para Will dar o golpe do só tenho 5 e pechincar com o trombada.
No final, esperamos o cara vazar, após seu grande assalto dez por cabeça, e saímos correndo desesperados, temendo que ele voltasse trazendo os amigos. Não é preciso dizer que ao chegarmos no shopping mais perto, disseram-nos que tinhamos vindo para a direção totalmente contrária. Na vontade de passar pelo mesmo caminho, pegamos um taxi, obviamente, para ir ao local correto e curiosidade: o cretino do Will, responsável por atrair o ladrão e o menos prejudicado no incidente, recusou-se a pagar.
O show foi um sucesso. Claro que ninguém ficou muito impressionado com a história do assalto, o que foi muito frustrante para nós, afinal, quase perdemos nossas vidas. Mas encontrei 20 reais no chão e acabamos sendo agraciados com uma belíssima refeição no Habibs, que para chamar de belíssima, imagine a nossa fome.