Tudo começou com aquela pressão da idade. No dia em que você faz 18 anos as pessoas lhe abrem duas portas. Elas dizem: “18 hein! já pode dirigir! Ou ser preso!”. Eu, como um cara simples, e de poucas aventuras, preferi correr atrás do sonho mais fácil.
Ontem fui preso, com armas e 1kg de maconha. Toquei o terror em um asilo e fui em cana.
Seria de fato mais simples. Mas não, eu queria o mais complexo, almejava o impossível. Passar no exame de motorista.
Passado um mês do aniversario citado, procurei uma auto escola. Mas tinha que ser a pior. Eu consegui escolher a pior de todas elas. Eu me senti uma daquelas crianças que ficam num lugar com isolamento sonoro enquanto a apresentadora pergunta ” você troca esse Playstation pelo “My little ponney?” “Sim!”.
O lugar chamava “Dois amigos”. Sinceramente, eu não era um desses dois. Acredito que, na verdade, não existam dois amigos lá dentro em nenhum setor. Devem ter batizado em homenagem a alguma amizade que aconteceu numa época bem distante. Lembro de um dia em que cheguei lá e a porta estava completamente destruída. Tinham atirado com armas de verdade na porcaria da auto escola. Amizade e companheirismo como nunca vi.
Enfim, o primeiro passo era marcar o pré cadastro. O recepcionista de lá marcou e imprimiu uma folha. Disse que estava tudo ok e que dali quinze dias eu teria de ir no Detran fazer essa parada.
Lá fui eu, depois das duas semanas de espera. Sem brincadeira, era o dia mais frio do mundo. Lembro até hoje de estar vestindo uma jaqueta amarela, estilo o cara mais presépio da America Latina, uma toquinha jururu, e luvinhas daquelas que ficam cheias de fiapo, você nunca consegue limpar completamente. Dizem que no frio a gente fica mais elegante. Pois quem é rico pode até ficar mesmo. Quem já não partilha dessa nobreza, fica cada vez mais ridículo. Mistura verde musgo com laranja só porque são os dois casacos mais quentes a disposição. Eu sei bem do que estou falando.
De qualquer maneira, nada podia me abater naquele dia, afinal, era o inicio de uma nova era. A era do gelo. Brincadeira. A era do ” eu também dirijo”. Fiquei na fila umas 15 horas. Talvez um pouco menos. Mas pareceu isso. Entrei naquele antigo Detran que tinha cara de ” alguém por favor incendeie este edifício” e fiquei indo de uma fila pra outra, topando com todos os reprovados do programa Ídolos. Confiante e sempre. Avançando e seguindo as linhas no chão.
Até que finalmente abriram a porta dos desesperados e eu pude receber meu premio de perdedor. Sentamos, cada um em uma cadeira e recebemos um papel com uma declaração que deveríamos copiar na folha que nos foi dada pela auto escola.
Comecei a escrever como um campeão. Segurando a caneta como quem segura a espada do he-man. Até que bati os olhos na parte da folha em que constavam meus documentos. Ou deveriam constar. O RG não batia. Fiquei meio desesperado e comecei a ler o nome e os outros dados. A folha estava no nome de um tal de Cosmiro Alves da Bahia. Senti aquele choquinho de quando a gente bate aquela parte do cotovelo na quina. Chamei o fiscal. Perguntei:
” Escuta, meu querido, aqui nessa lacuna devia estar o meu nome?”
ele leu
” Cosmiro”
e perguntou,
“e qual o seu nome?”
respondi
” Cosmunha”.
Mentira. Respondi
“Felipe”.
Ele olhou pra mim, riu na minha face, e disse ” Volta lá na auto escola dá uma boa bronca neles e remarca daqui a quinze dias.”.
HAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHA
ResponderExcluirTrollado pela auto-escola!
HAHAHAHAHAHAHAHA ISSO É SÓ O COMEÇO...
ResponderExcluirbroder, o seu Blog realmente diverte pelas suas desventuras não singulares (como tirar carteira de motorista) contadas de forma singular, e também emociona qdo vc fala desse algo tão peculiar chamado amigos !! me faz lembrar dos episódios do Kevin Arnold. mtu boa a leitura dos seus textos ..
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