Estava lembrando de uma história da minha infância. Foi inevitável, já que
ontem, na festa Junina do meu filho, acabei tendo contato com esta realidade há
muito esquecida.
Durante a terceira série, eu era muito apaixonado por uma menina do colégio. Escrevia o nome dela nos meus cadernos e borrachas, a escolhia para o meu time de queimada e essas coisas todas. Como qualquer garoto de nove anos, não conseguia nem imaginar um meio de dar vazão àquele sentimento furioso. Era a conhecida paixão platônica.
A festa junina anual trazia um gosto diferente para aquele romance. Não sei explicar. Acho que era o ambiente descontraído, todos aqueles churros de doce de leite, barracas de bola na lata e prendas de baixo orçamento.
O que aconteceu foi que, em determinado momento da festa daquele ano, recebi um "correio elegante". Acredito que a maioria de vocês esteja familiarizado com este instrumento marcante de divulgação do amor juvenil. A sensação foi de explosões atômicas internas e esperanças não muito bem definidas, mas a reação, frente aos meus amigos, foi uma frase de desprezo: "isso é muito ridículo!".
Abri o bilhete anônimo que dizia "I love you" e senti um tremendo desequilíbrio nas pernas. Tratava-se de uma das poucas frases em inglês que não eram desconhecidas para ninguém. Meus amigos começaram a me sacanear imediatamente, cantando cantigas de namoro, enquanto eu tentava, alucinadamente, ocultar minha alegria e manter minha paixão mirim em segredo.
Fracassei nesta missão, mas acredito que todos eles já presumiam quem era a minha musa inspiradora bem antes daquele dia. Foram estes meus amigos que contribuíram na continuidade dos fatos, e levaram este episódio a seu ápice.
Durante a terceira série, eu era muito apaixonado por uma menina do colégio. Escrevia o nome dela nos meus cadernos e borrachas, a escolhia para o meu time de queimada e essas coisas todas. Como qualquer garoto de nove anos, não conseguia nem imaginar um meio de dar vazão àquele sentimento furioso. Era a conhecida paixão platônica.
A festa junina anual trazia um gosto diferente para aquele romance. Não sei explicar. Acho que era o ambiente descontraído, todos aqueles churros de doce de leite, barracas de bola na lata e prendas de baixo orçamento.
O que aconteceu foi que, em determinado momento da festa daquele ano, recebi um "correio elegante". Acredito que a maioria de vocês esteja familiarizado com este instrumento marcante de divulgação do amor juvenil. A sensação foi de explosões atômicas internas e esperanças não muito bem definidas, mas a reação, frente aos meus amigos, foi uma frase de desprezo: "isso é muito ridículo!".
Abri o bilhete anônimo que dizia "I love you" e senti um tremendo desequilíbrio nas pernas. Tratava-se de uma das poucas frases em inglês que não eram desconhecidas para ninguém. Meus amigos começaram a me sacanear imediatamente, cantando cantigas de namoro, enquanto eu tentava, alucinadamente, ocultar minha alegria e manter minha paixão mirim em segredo.
Fracassei nesta missão, mas acredito que todos eles já presumiam quem era a minha musa inspiradora bem antes daquele dia. Foram estes meus amigos que contribuíram na continuidade dos fatos, e levaram este episódio a seu ápice.
Em determinado momento da festa fui surpreendido pelos funcionários
da “Cadeia”. Imagino que vocês também saibam como funciona essa brincadeira
junina. Um claro incentivo à corrupção policial, que consiste em legitimar a
prisão de inocentes em troca de dinheiro. Havia sido traído pelos meus próprios
companheiros, que assistiram, com risadinhas, à minha injusta escolta até o
pequeno cercado.
Porém, eles foram além. Passados dois minutos do cativeiro,
eis que a própria rainha do meu rodeio é também levada presa. Não é necessário
dizer que meu coração entrou em combustão espontânea. Então não vou dizer.
Nossos olhos se encontraram imediatamente e isso acabou me
fazendo ferver ainda mais. Apesar de não ser tão esperto hoje em dia, posso
dizer que não era assim tão burro na época. Sabia que não era prudente
mencionar o bilhete, já que poderia ser de outra menina, mas não nego que me
senti confiante para puxar uma conversa madura.
- Você também foi presa? – perguntei. Pobre coitado.
- Sim. – respondeu, gentilmente. Continuava a me olhar nos
olhos. Isso me assustou um pouco.
- É, eu também fui. – continuei, senhor de mim e arauto do óbvio.
– você sabe quem foi que te mandou?
- Não. – respondeu. Falava pouco, a menina.
Concordei com a cabeça. Aquele olhar dela continuava me
fritando. Eu esperava algum sorriso, alguma demonstração de constrangimento (ou
até de humanidade), mas não veio nada. Minhas mãos começaram a suar.
- Tá legal a festa né? – perguntei. E foi aí que percebi que
não conseguiria, nunca, chegar à frase realmente importante, que havia
elaborado: “você quer comer um churros de doce de leite comigo, quando sairmos
daqui?”. Era angustiante.
- Tá sim – respondeu. E ficamos assim, por mais alguns
minutos. De vez em quando eu olhava para ela e só desviava o olhar depois que
era surpreendido. Era tudo muito bem calculado. Deixava ela perceber esse desvio de olhar,
para deixar claro que havia algo suspeito ali. Um flerte primário, que
desenvolvi por conta própria e carreguei para minha vida adulta, com o qual iniciei
o contato com minha atual esposa.
Fui libertado ao final de 5 minutos, conforme acordado com o
sistema de lei vigente, e não cheguei a encontrar com aquela doce jovem pelo
restante da festa. Mas o pior vem agora.
No carro, voltando para casa, depois daquele dia cansativo e
cheio de emoções, descobri, para minha completa e absoluta ruína, que o correio
elegante tinha sido escrito, pago e enviado pela minha santa mãe. Uma
brincadeirinha. Uma traquinagem sem maldade. Farrinha de mãe. Precisei de
anos de terapia para voltar a acreditar no amor.
Ficção. Haha.
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