Mas dá pra ler em menos tempo.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

O Fotógrafo

Era uma vez esse fotógrafo. Mas não vou contar a história toda do cara. Até pq a vida real é muito comprida pra ser divertida o tempo todo. Pra ser franco, também não sei dizer se esse pedaço da vida dele foi tão divertido assim. A diversão é muito subjetiva. Por exemplo, várias vezes eu falo coisas engraçadas e minha namorada não ri. 

Enfim, esse fotógrafo (eu não sei o nome dele) foi contratado para fazer um book de um casal de namorados: a filha do prefeito e seu companheiro. Eu, particularmente, não sou muito favorável a esse tipo de coisa, mas sou só o narrador da história e acho que não importa muito a minha opinião. 

E o que eu sei é que esse casal de namorados não estava junto nem há três meses mas, aparentemente, já se achavam íntimos o suficiente para fazerem um book de fotos de amor eterno e tudo. A princípio, tudo correu mais ou menos da forma de sempre. O fundo branco. Algumas fotos de mãos dadas, outras frente a frente. Normal. Até que o comportamento da moça começou a se alterar. 

Acho que ela estava cada vez mais feliz por ser fotografada e começou a ficar eufórica. Seu sorriso se abria cada vez mais, de orelha a orelha, a ponto de o fotógrafo ficar preocupado com ela arruinar todas as fotos ou ter sérios problemas na mandíbula. Ele ficava dando dicas tipo: "isso, agora um sorriso mais suave" e tb dizia "ótimo" cada vez que o sorriso vacilava. Mas a mulher estava cada vez mais alegre, de um jeito meio desesperado, e fazendo poses escandalosas. 

Aí, no auge daquela terrível espontaneidade feminina, quando as portas da liberdade artística estavam escancaradas no imaginário dessa jovem, uma frase acabou por revelar quem era ela, em sua essência. Uma frase que abriu os calabouços mais temidos pelos homens de verdade, e que não poderia ser prevista por aquele jovem, nem em seus piores pesadelos.

A moça, com seu sorriso alucinado, virou para ele e bradou "me segura no colo, NENÉM!".

O fotógrafo engasgou com saliva. O namorado, que já não estava muito confortável naquela sessão de fotos, se assustou francamente com seu novo apelido e com a proposta. Seu rosto indicava uma mistura de vergonha e vontade de vomitar. 

Quando ficou claro que ele não ia pega-la no colo coisa nenhuma, o sorriso da lunática apagou na velocidade da luz. Foi um troço tão assustador que o fotógrafo chegou a dar um passo para trás. 

O namorado deu um riso sem graça, talvez tentando aplacar qualquer emoção indesejada, mas não foi muito eficiente. O rosto da garota começou a ficar muito vermelho, a expressão de fúria deformando a cara toda, e ela gritou: "ME PEGA NO COLO, AGORA, NENÉM!!!" 

O namorado, o fotógrafo e toda a equipe de iluminação ficaram em completo silêncio, sem reação. O silêncio reinou soberano e constrangedor por longos cinco segundos. O namorado estreitou os olhos e perguntou bem suavemente: "você é retardada mental?"

Foi o que bastou. Uma escolha infeliz de palavras, se vc me perguntar. Mas boa o bastante para que o fotógrafo iniciasse um ataque de riso desesperado e inconveniente. Começou a roncar e guinchar como um porco na hora do abate, tentando controlar aquelas risadas. Quanto mais tentava, mais evidente era o seu fracasso. 

A namorada, que não era nenhuma inexperiente na arte da guerra, largou logo uma patada violenta na cara do namorado, que caiu no chão tremendo. 

Toda a cena aconteceu numa velocidade impressionante e por isso o fotógrafo não teve tempo de perceber seu destino. Com lágrimas nos olhos, levantou a cabeça para tentar recuperar o ar, apenas para receber uma cacetada infernal na têmpora.

Não dá pra saber se ele ficou desacordado realmente ou se fingiu o desmaio para não ter que lidar com aquela besta selvagem. Contam que a mulher abriu caminho rapidamente entre a equipe de iluminação gritando "NÃO SE APROXIMEM!", atitude que nem  remotamente passava pela cabeça daqueles espectadores, e voltou chorando para seu pai, que, como já foi dito, e para a infelicidade de todos os envolvidos, era o prefeito da cidade. 

É como eu falei antes, nem toda a vida do fotógrafo foi tão divertida quanto este momento.

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