Cara, para começo de conversa, se você quer saber minha opinião, este título é uma das frases mais deprimentes já criadas. Nossa, como eu acho deprimente esse lance de falar que tais anos foram “os melhores anos da minha vida”. Já devo ter dito isso algumas vezes, claro, não estou nem criticando quem costuma dizer. Só acho um bocado deprimente.
A verdade é que, se parar pra pensar, você possivelmente consegue classificar uma etapa da sua vida como sendo a melhor. E raramente é o dia de hoje. Mas quero extrapolar um pouco esse tema e falar sobre um troço que considero muito presente na vida de um individuo como eu. A nostalgia.
Você não tem obrigação nenhuma de saber o significado exato da palavra. Posso te surpreender dizendo que, por definição, é um sentimento ruim, uma dor gerada pela distancia de casa. Mas, coloquialmente, e é dessa forma que vou utilizar aqui, o momento de nostalgia é quando um sentimento sonhador profundo te ataca, sem piedade, remontando alguma coisa do passado. É quase como saudades boas de um passado que já está, irremediavelmente, além do alcance. Basta ouvir uma música, sentir um perfume da infância, ver fotos antigas etc.
O grande problema desse maldito sentimento é que ele é um mentiroso cretino. Ele aplica truques ninja altamente sofisticados, na intenção de te fazer um miserável. Você, se ainda não notou isso, perceba: quando essa sensação te invade, você pensa que daria tudo para estar naquele momento. Viver ali. Naquele instante. Naquela lembrança. Naquele trecho que você mal sabe explicar.
Posso ser até mais claro. Relembre suas viagens. A menos que algo tenha dado muito errado em alguma delas, geralmente são lembranças das mais impactantes. Lembro bem de como passei momentos tediosos em um cruzeiro que fiz uma vez. Mesmo assim, o sentimento que me vem quando penso nele é de que foi ideal. Tudo estava maravilhoso. Poderia estar lá, agora, feliz e entendiado para sempre.
Mas pode ser até muito mais profundo e enganoso do que simples lembranças. Muitas vezes você sente saudade de um troço que nem viveu! Juro que somos todos malucos de pedra. Aquela cena de um Brasil antigo, ou Nova York em tempos de neve que você vê num filme ou numa foto. Você nunca esteve lá, mas sente saudades de lá! Como pode? Aquele aroma que te traz um momento que você nem lembrava, ou que nem existe. Um momento em que tudo fazia sentido. Eu não sei se estou sendo claro, mas não me venha com esse papo de outras vidas. 1984, por exemplo. O livro. Não confunda com o 1808. Eu lembro de ter lido esse livro, no ônibus, ao som do cd Comedown Machine, dos Strokes.
Sem brincadeira nenhuma, acabei de colocar aqui pra tocar e já fico todo saudoso. Parece que você quer voltar para o livro. Para dentro da história, ou para dentro do momento de estar lendo o livro. Tudo parecia tão certo.
É um sentimento que nos embriaga, essa que é a verdade. Sei que estou misturando tudo e muitos podem dizer que não se pode ter nostalgia de uma coisa que não se viveu. Mas acredito que já consegui te colocar a par do que estou falando, isso é o que importa. São coisas que caminham juntas. E de alguma maneira remetem ao passado. Tanto o fato de você lembrar do colegial e sentir que aquela época era de ouro, quanto olhar para uma paisagem muito bonita e pensar “se eu estivesse lá, tudo seria diferente”. Haha. Tive que rir. É uma viagem bem intensa que estou fazendo aqui, mas é pura verdade.
E contra isso não há competição. Contra esse teatro de fantoches. Essa farsa. Essas lembranças tão deturpadas e aperfeiçoadas. Não tem como você dizer, portanto, que está vivendo os melhores anos da sua vida agora. Sentado aí nessa cadeira. Ou sei lá. A menos que você racionalize muito as coisas ou esteja naquela época de um relacionamento em que a paixão é furiosa e tudo está dando certo.
É claro que a espiritualidade te esclarece as coisas. Não vou entrar nesse tópico aqui. Mas garanto a vocês que se não fosse cristão, com certeza eu seria um infeliz. Preso em memórias incertas, por vontade própria. Como muito bem ilustrou Fitzgerald “E assim prosseguimos, botes contra a corrente, impelidos incessantemente para o passado”
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