Eu conheci essa garota pela internet. Era amiga de uma amiga minha, que resolvi adicionar pelo Facebook, só por ter achado ela tremendamente bonita. Se chamava Laura.
Demorou umas duas semanas para aceitar meu pedido. E dei sorte, porque eu mesmo não aceito um único infeliz que me adiciona sem me conhecer. Aparentemente ela me confundiu com algum cara que já tinha visto e lá estava eu, em sua lista de amigos. Haha.
Não importa muito para mim contar os detalhes desse princípio-princípio de relacionamento. Quero mesmo é falar da primeira vez que a gente saiu. Só para não deixar um buraco muito grande na história, digo que puxei uma conversa por mensagens no Facebook e acabei chamando a atenção daquela deusa grega. É engraçado como as coisas são.
De qualquer forma, chamei ela para um encontro. Não usei essa palavra, claro. Não disse pra ela “Ei, quer ir a um encontro comigo? ”. Mas também não fingi que queria ser só um amigão dela ou qualquer coisa assim.
Falei “Ei, queria sair com você”. E ela falou “Também quero sair com você”. Mentira. A vida não é assim simples. Ela falou apenas “tudo bem”. Como se não fosse um favor tão grande assim. Por mim estava ótimo.
Marquei de me encontrar com ela no restaurante. É sério. Eu não tinha carro, nem nada disso, mas gostava da menina, que podia fazer? Marquei no restaurante e fui de ônibus mesmo. Haha. Sei que soa meio ridículo. Mas não é não. A gente tem que fazer a tal da limonada com os limões que a vida te dá. Né?
Ela não se importou.
Cheguei lá uns quinze minutos antes do combinado. Às 20h15. Era um restaurante bonito à beça, mas que só servia bife e batata frita. Juro. Era um restaurante chique pra burro que só servia isso, bife e batata frita.
Minhas mãos estavam geladas. Foram os quinze minutos mais longos da porcaria da minha vida inteira. Haha. Foi bem pior do que nas vezes em que chegava cedo para entrevistas de emprego. Minhas pernas não paravam de se movimentar embaixo da mesa, inquietas. Pedi o cardápio para matar o tempo e foi aí que vi que só serviam bifes com batata frita.
Chamei o garçom.
- Escuta, meu bom amigo, vocês só servem bife com batata frita?
- Boa noite senhor. Sim, senhor. Este é o prato da casa. As batatas fritas são à vontade.
Era tipo refil de batata frita. Uma ideia genial, se me perguntarem. Mas fiquei um pouco receoso. A garota fazia faculdade de Nutrição, tinha um blog de alimentação e boa forma e, bem, pelo pouco que sei, batata frita não é muito saudável, né? Isso me deixou mais nervoso ainda.
Eu, por um erro estratégico, sentei em um lugar onde não era possível enxergar quem estava entrando no restaurante. Por isso tinha que ficar virando a cabeça o tempo todo, o que era péssimo. Cheguei até a ficar um pouco enjoado. Haha. Mas então, numa dessas viradas, a vi entrando pela bendita porta. Santo Deus! Era como se o pôr do Sol tivesse se transformado em mulher, ali na minha frente. Juro que ouvi música clássica em claro e bom som, dentro da minha mente, coroando aquele momento.
Puxa, como eu estava nervoso! Meu coração estava batendo tão rápido que fiquei com medo de começar a disparar aquele alarme da Car System “atenção, o seu veículo está sendo roubado”. Olhei para os lados, rapidamente, pra ver se alguém estava ouvindo aquele tambor alucinante, mas todo mundo disfarçou muito bem.
Quando me viu, deu um sorriso bem sutil, que mais se revelou nos olhos do que na boca. E isso foi também uma injeção de adrenalina. Nos cumprimentamos e puxei a cadeira pra ela, como eu tinha visto nos filmes.
- Você é muito mais bonita pessoalmente – arrisquei. Tinha treinado muito essa, mas a frase saiu naturalmente porque era mais verdade do que tinha imaginado.
Ela sorriu e agradeceu. A voz dela era bonita também. Mas isso eu já sabia. Uns dias antes ela havia me enviado uma mensagem de voz no Whatsapp dizendo “não posso falar agora, estou dirigindo” e eu fiquei ouvindo a porcaria da mensagem umas mil vezes. Haha.
O garçom entregou um cardápio para ela. Eu achei meio sacanagem, porque só tinha bife e batata frita no lugar, mas acho que era mais por causa das bebidas. Eu vi ela franzir o cenho, que quer dizer “franzir a testa”, e entendi que ela tinha chegado nas poucas opções do Menu.
- Só servem um prato aqui? – ela perguntou. Mas não foi rude da parte dela. Aliás ela poderia dizer “você é um dos maiores babacas que já conheci” e eu não ia achar rude. Ia provavelmente concordar com ela.
- Sim, sim. Bife e batata frita. Espero que não seja um problema. – respondi. E dei um sorriso meio constrangido.
Ela sustentou meu olhar por uns dois segundos.
- É que eu sou vegetariana. – disparou. Haha! Juro que ela falou isso. Vegetariana, meu Deus!
Vocês não têm noção do que se passou com as minhas tripas, naquele momento. Fiquei completamente paralisado. E acho que nem eu sei o que se passou com a minha cara, naquele momento. Porque ela abriu um sorriso enorme, desses que iluminam o mundo, e disse que estava brincando. Estava brincando a filha da mãe!
- Nossa, você quase me matou do coração. – falei.
E ela riu. E depois eu ri. E conversamos. Até hoje.
(Ficção)
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