Mas dá pra ler em menos tempo.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

O Quartinho

Pode parecer mentira isso que eu vou contar agora. Mas acredite, não tem mentira nenhuma dessa vez. É uma história real, de puro terror.

Aconteceu quando eu tinha uns doze anos. Estávamos eu e meu grande amigo Alex em meu antigo apartamento. Ele ia dormir lá em casa e a gente estava de férias e tudo. Na época, o único computador da casa ficava no conhecido “quartinho da empregada”.

Hoje em dia, falar “quartinho da empregada” soa mal pra burro. Por isso eu botei as aspas. Pra ver se alivia um pouco.  Mas era esse nome aí mesmo. Ninguém dormia lá, então a gente chamava só de “quartinho”. Não sei se isso é muito importante pra história.

Em todo caso, o quartinho ficava escondido no apartamento. O único acesso era pela área de serviço, depois da cozinha. Às onze horas da noite minha mãe e minha irmã foram dormir e eu e o Alex estávamos lá, mexendo no computador. Era quarta-feira e meu pai tinha plantão no hospital.
Tomados pela euforia e liberdade das férias, nos deixamos levar noite adentro. E aí que o troço começou a ficar assustador.

Para deixar ainda mais claro, a cena era a seguinte: dois garotos de doze anos, num quartinho mal iluminado, cuja única porta dava para uma área de serviço em completa escuridão. Imaginem isso.
Lá pelas duas horas da manhã, ouvimos um barulho no apartamento. Meu sangue gelou na hora. Nos olhamos. O barulho era como se alguém tivesse esbarrado em alguma coisa, que caiu no chão. Na mesma hora pensei “alguém entrou no apartamento”.

- Que barulho foi esse? – o Alex perguntou, paralisado.

- Mano. Não. Tenho. Ideia. – respondi.   

Não sei quanto tempo se passou após esse primeiro susto. Imagino que não tenha sido muito, porque eu estava segurando a respiração. Um minuto. Dois. Três, talvez. Até que novamente ouvimos aquele som aterrorizante. Fechamos a porta, rapidamente.

- Santo Deus. Tem alguém no apartamento. – falei. Ou algo bem parecido. Faz muito tempo para eu lembrar exatamente as falas oficiais do evento. Relevem.

- Não pode ser. Será que não é sua mãe? – perguntou. Mas dava pra ver que ele não acreditava nem um pouco nisso. Ignorei.

Mais uma vez o barulho. Senti o suor se formando nas minhas mãos e no meu pescoço.
- Mano, será que é um ladrão? – perguntei. E acho que essa pergunta fez com que o clima de medo se transformasse em pânico mudo.

Ficamos um tempo em silêncio. O coração batendo de forma doentia. Não ouvimos mais nada. Abrimos a porta, coisa que não se deve fazer nunca numa situação dessas. E a situação piorou bem.
O que aconteceu foi que resolvemos mandar a Atena, minha poodle, em missão de reconhecimento. Na época ela chamava Lili, estou sempre mudando o nome dela, mas não acho que isso seja tanta sacanagem se comparado com essa história de mandarmos ela naquela missão de reconhecimento.

Atena (Lili) começou a caminhar pela área de serviço. MAS CAMINHAVA LENTAMENTE. Apreensiva! Isso fez o restante dos pelos da minha nuca se arrepiarem. Não avançou mais do que uns 4 passos. Quer dizer, é difícil calcular os passos dos quadrúpedes. Devem ter sido uns 16 passos. MAS, MUITO CURTOS. E aí que a coisa foi para o vinagre. Uma figura de 1 metro e 80 se materializou perto da porta da cozinha, com as roupas em trapos, cara de lunático e uma faca na mão.
 
Não aconteceu isso não. Santo Deus, acho que eu morreria ali mesmo. Seria o meu leito de morte. Mas não pense que o que aconteceu foi muito mais leve do que isso. Ah, não senhor! Atena parou de se mover. Eu e o Alex prendemos novamente a respiração esperando alguma reação do pobre animal, parado há um metro e meio de nós. E ela começou a rosnar, senhoras e senhores. Nossa senhora. Rosnar.

Foi até onde meus nervos puderam aguentar. Chamei Atena de volta, fechei a porta e fui sentar no chão, encostado na parede, em estado de choque.

Alguns pensamentos passaram pela minha cabeça. Os piores. Quis ligar para o telefone da minha mãe (havia outra linha no quartinho), para avisá-la do invasor, mas fiquei com um medo terrível de que isso fosse a causa de desastres maiores. O melhor cenário seria se o cara levasse tudo o que quisesse sem que ninguém interferisse.

Ouvimos outro barulho daqueles. Era um filho da mãe desastrado. Por um instante visualizei meu coração abrindo caminho pela minha garganta, com uma maleta e um chapéu, dizendo “Vou dar o fora, rapazes. Isso é loucura”.

- Não vou sair daqui. – Falei. Acho que falei mais pra mim mesmo do que para o Alex. – Não vou sair daqui até amanhecer.

E isso não estava aberto para discussão. Fiquei ali sentado no chão, com Atena no colo, por horas. Chegamos a ouvir o barulho mais uma vez. Uma noite tenebrosa.

Quando o sol começou a aparecer, isso depois de umas três horas trancados no quartinho, criamos coragem para ver o estrago. Andamos lentamente até a cozinha e, pasmem, o chão estava encharcado. Olhamos aquilo, espantados, e disparamos para o meu quarto. Tudo parecia em ordem no restante da casa. Nenhum objeto derrubado. Corremos para dentro dos cobertores, também com o medo irracional da minha mãe descobrir que havíamos passado a noite inteira acordados. Dormimos.


O mistério continuava sem explicação até a hora do almoço e, às vezes, penso que seria melhor se ele tivesse permanecido assim. Mas o que rolou foi o seguinte: o freezer estava descongelando. Acreditam nisso? Simplesmente isso: o freezer estava descongelando. As calotas de gelo se espatifavam no chão da cozinha enquanto eu e Alex tremíamos no quartinho escuro. Boa noite.  

2 comentários:

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