Pode parecer mentira isso que eu vou contar agora. Mas
acredite, não tem mentira nenhuma dessa vez. É uma história real, de puro
terror.
Aconteceu quando eu tinha uns doze anos. Estávamos eu e meu
grande amigo Alex em meu antigo apartamento. Ele ia dormir lá em casa e a gente
estava de férias e tudo. Na época, o único computador da casa ficava no conhecido
“quartinho da empregada”.
Hoje em dia, falar “quartinho da empregada” soa mal pra
burro. Por isso eu botei as aspas. Pra ver se alivia um pouco. Mas era esse nome aí mesmo. Ninguém dormia lá,
então a gente chamava só de “quartinho”. Não sei se isso é muito importante pra
história.
Em todo caso, o quartinho ficava escondido no apartamento. O
único acesso era pela área de serviço, depois da cozinha. Às onze horas da
noite minha mãe e minha irmã foram dormir e eu e o Alex estávamos lá, mexendo
no computador. Era quarta-feira e meu pai tinha plantão no hospital.
Tomados pela euforia e liberdade das férias, nos deixamos
levar noite adentro. E aí que o troço começou a ficar assustador.
Para deixar ainda mais claro, a cena era a seguinte: dois
garotos de doze anos, num quartinho mal iluminado, cuja única porta dava para
uma área de serviço em completa escuridão. Imaginem isso.
Lá pelas duas horas da manhã, ouvimos um barulho no
apartamento. Meu sangue gelou na hora. Nos olhamos. O barulho era como se
alguém tivesse esbarrado em alguma coisa, que caiu no chão. Na mesma hora
pensei “alguém entrou no apartamento”.
- Que barulho foi esse? – o Alex perguntou, paralisado.
- Mano. Não. Tenho. Ideia. – respondi.
Não sei quanto tempo se passou após esse primeiro susto.
Imagino que não tenha sido muito, porque eu estava segurando a respiração. Um
minuto. Dois. Três, talvez. Até que novamente ouvimos aquele som aterrorizante.
Fechamos a porta, rapidamente.
- Santo Deus. Tem alguém no apartamento. – falei. Ou algo
bem parecido. Faz muito tempo para eu lembrar exatamente as falas oficiais do
evento. Relevem.
- Não pode ser. Será que não é sua mãe? – perguntou. Mas
dava pra ver que ele não acreditava nem um pouco nisso. Ignorei.
Mais uma vez o barulho. Senti o suor se formando nas minhas
mãos e no meu pescoço.
- Mano, será que é um ladrão? – perguntei. E acho que essa
pergunta fez com que o clima de medo se transformasse em pânico mudo.
Ficamos um tempo em silêncio. O coração batendo de forma
doentia. Não ouvimos mais nada. Abrimos a porta, coisa que não se deve fazer
nunca numa situação dessas. E a situação piorou bem.
O que aconteceu foi que resolvemos mandar a Atena, minha
poodle, em missão de reconhecimento. Na época ela chamava Lili, estou sempre
mudando o nome dela, mas não acho que isso seja tanta sacanagem se comparado
com essa história de mandarmos ela naquela missão de reconhecimento.
Atena (Lili) começou a caminhar pela área de serviço. MAS
CAMINHAVA LENTAMENTE. Apreensiva! Isso fez o restante dos pelos da minha nuca
se arrepiarem. Não avançou mais do que uns 4 passos. Quer dizer, é difícil calcular
os passos dos quadrúpedes. Devem ter sido uns 16 passos. MAS, MUITO CURTOS. E
aí que a coisa foi para o vinagre. Uma figura de 1 metro e 80 se materializou
perto da porta da cozinha, com as roupas em trapos, cara de lunático e uma faca
na mão.
Não aconteceu isso não. Santo Deus, acho que eu morreria ali
mesmo. Seria o meu leito de morte. Mas não pense que o que aconteceu foi muito
mais leve do que isso. Ah, não senhor! Atena parou de se mover. Eu e o Alex
prendemos novamente a respiração esperando alguma reação do pobre animal,
parado há um metro e meio de nós. E ela começou a rosnar, senhoras e senhores. Nossa
senhora. Rosnar.
Foi até onde meus nervos puderam aguentar. Chamei Atena de
volta, fechei a porta e fui sentar no chão, encostado na parede, em estado de
choque.
Alguns pensamentos passaram pela minha cabeça. Os piores. Quis
ligar para o telefone da minha mãe (havia outra linha no quartinho), para
avisá-la do invasor, mas fiquei com um medo terrível de que isso fosse a causa
de desastres maiores. O melhor cenário seria se o cara levasse tudo o que
quisesse sem que ninguém interferisse.
Ouvimos outro barulho daqueles. Era um filho da mãe
desastrado. Por um instante visualizei meu coração abrindo caminho pela minha
garganta, com uma maleta e um chapéu, dizendo “Vou dar o fora, rapazes. Isso é
loucura”.
- Não vou sair daqui. – Falei. Acho que falei mais pra mim
mesmo do que para o Alex. – Não vou sair daqui até amanhecer.
E isso não estava aberto para discussão. Fiquei ali sentado
no chão, com Atena no colo, por horas. Chegamos a ouvir o barulho mais uma vez.
Uma noite tenebrosa.
Quando o sol começou a aparecer, isso depois de umas três
horas trancados no quartinho, criamos coragem para ver o estrago. Andamos
lentamente até a cozinha e, pasmem, o chão estava encharcado. Olhamos aquilo,
espantados, e disparamos para o meu quarto. Tudo parecia em ordem no restante
da casa. Nenhum objeto derrubado. Corremos para dentro dos cobertores, também
com o medo irracional da minha mãe descobrir que havíamos passado a noite
inteira acordados. Dormimos.
O mistério continuava sem explicação até a hora do almoço e,
às vezes, penso que seria melhor se ele tivesse permanecido assim. Mas o que
rolou foi o seguinte: o freezer estava descongelando. Acreditam nisso? Simplesmente
isso: o freezer estava descongelando. As calotas de gelo se espatifavam no chão
da cozinha enquanto eu e Alex tremíamos no quartinho escuro. Boa noite.
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